BIONDI, LUIGI . A imprensa anarquista italiana no Brasil: 1904-1915. [Título original em italiano: La stampa anarchica italiana in Brasile: 1904/1915.]

Italianos Comunicação. Imprensa anarquista: Século 20 Brasil- História do anarquismo

Tesi di Laurea (Mestrado)
Orientador: GIULIANO PROCACCI/ANGELO TRENTO
Data da defesa: março 1995
Universitá degli Studi di Roma “ La Spienza”
RESUMO
A dissertação pretendeu explicar e analisar a influência dos imigrantes italianos no desenvolvimento do movimento operário brasileiro, em particular paulista, durante a Primeira República. Vista a importância e a difusão que tiveram as ideologias anarquistas entre os trabalhadores italianos imigrados, foram escolhidas como fontes primárias, os jornais anarquistas em língua italiana, publicados em São Paulo entre 1904 e 1915, no momento de maior atividade de atuação dos grupos anarquistas entre os trabalhadores imigrados, constituindo os italianos naquela época quase 70% da força de trabalho paulista. Este trabalho constitui, portanto, uma análise sistemática, de como se desenvolveu a propaganda anarquista entre os operários e camponeses italianos imigrados no estado de São Paulo, através do estudo da vida dos jornais: “La Battaglia”, “La Barricata” ,“La Propaganda Libertaria”, e “Guerra Sociale”. A dissertação foi subdividida em duas partes: a primeira dedicada à análise cronológica da vida dos jornais em que o mesmo grupo redator continuou a experiência iniciada em 1904; a segunda parte, que podemos chamar de temática, concentrou-se, ao invés, sobre os temas mais importantes que foram desenvolvidos pelos redatores em sua estratégia para difundir a ideologia anarquista entre os imigrantes. Na primeira parte, pude verificar que a vida dos periódicos desenvolvia-se paralelamente à vida do movimento operário. Nos momentos em que o movimento sindical encontrava-se em crise, profundamente desorganizado, também o jornal sofria essa dificuldade. “La Battaglia”, continuou sendo, todavia, um ponto de referência para os trabalhadores italianos, apesar dos redatores serem convictos anti-organizacionistas, e isso pelo fato de que o jornal era, de qualquer forma, um espaço aberto a todas as frações do movimento operário. A dissertação chega à conclusão, que durante o período em questão, “La Battaglia”, e com ela o movimento anarquista, encontrou um certo vigor graças à contribuição de dois grupos sociais constituídos por artesãos e pequenos comerciantes italianos imigrados, tanto do interior como da cidade de São Paulo. Podemos dizer que estes periódicos trouxeram nos centros urbanos de pequenas e médias dimensões, para muitos imigrantes pertencentes àqueles grupos sociais a possibilidade de explicitar suas exigências, pelo fato de que não existiam para eles outros canais político-institucionais. Na segunda parte, um capítulo foi dedicado à análise que os redatores e os correspondentes faziam da sociedade brasileira. O que ressalta nessas análises é a expressão de posições muitas vezes etnocentricas, que consideravam o Brasil como país condenado socialmente por sua história escravocrata. Os outros dois capítulos desta parte se concentraram na análise da relação dos militantes anarquistas italianos com a questão da imigração no Brasil e em particular das condições de vida e de trabalho nas fazendas de café, e nas fábricas paulistas. Foi evidenciado quais dificuldades eles encontraram em fazer propaganda nos meios dos colonos e dos operários, obstáculos que levaram o movimento anarquista de língua italiana a voltar ao ponto de partida do final do século XIX, quando se contavam poucas centenas de militantes ativos.
Arquivo Edgard Leuenroth