LEME, DULCE MARIA POMPÊO DE CAMARGO. "Hoje há Ensaio”. A greve dos ferroviários da Cia. Paulista (1906).

greve São Paulo (Brasil)

Orientador: Mauricio Tragtenberg . Data da defesa: agosto 1984. IFCH
RESUMO
Esta dissertação resgata a mais importante tentativa de greve dos ferroviários na primeira década deste século, em São Paulo. Nele abordamos as condições de vida e de trabalho que propiciaram o início do movimento, deflagrado através do uso cifrado do telégrafo da Cia. Paulista: “Hoje há Ensaio”. Dentre as diferentes categorias de trabalhadores, a dos ferroviários era uma das que possuía uma relativa organização, não só pela sua concentração em diferentes pontos do Estado, como pela sua atuação em manifestações reivindicatórias anteriores. Para a organização do proletariado foram importantes o exemplo e a ação desta greve de 1906, para que, a partir da identificação de interesses comuns, obtivessem a solidariedade dos demais trabalhadores. Para a concretização deste estudo, realizamos uma análise da bibliografia referente ao desenvolvimento do capitalismo, a influência da tendência anarco-sindicalista para a formação da classe operária no Brasil, dedicando longo tempo à pesquisa e interpretação dos jornais operários e da grande imprensa, da capital e do interior. Também não faltaram depoimentos de participantes ou contemporâneos do movimento. Para melhor compreensão do objeto, relacionamos esta greve específica à expansão da economia agro-exportadora do café, onde a ferrovia, dadas as exigências do dinamismo do capitalismo internacional, ocupou um papel estratégico como elo de ligação entre regiões produtoras e exportadoras. Pela sua eficácia, destacou-se ainda, como fator de formação, desenvolvimento e integração de povoados e núcleos urbanos, ao mesmo tempo em que se tornou, dadas as suas características, um poderoso veículo de idéias em favor da causa operária e da organização das Ligas Operárias. Tomando por base a estrutura sócio-econômica brasileira, procuramos conhecer as condições sociais da classe operária, a influência das decisões do I Congresso Operário Brasileiro - 1906 para a organização dos trabalhadores, a natureza e contradições de suas reivindicações e o sentido das manifestações de solidariedade. Evitando uma visão exclusivamente cronológica, analisamos o início e desenvolvimento da greve, tentativas de negociação, manifestações de sabotagem, bem como a violência e repressão policial. A partir desta dissertação, foi possível mostrar que foram as condições materiais vividas que levaram os ferroviários a esta manifestação reivindicatória imediata, à ação direta, que culminou em importantes formas de solidariedade de outros setores operários. A vanguarda das Ligas Operárias acreditava, que somente a ação espontânea das massas, que consistia em pressionar o poder econômico e político dominante, poderia unir o proletariado e levá-lo à emancipação. A greve de 1906, não foi entendida como um fato isolado, e sim, como o gérmen de um movimento mais amplo que caracterizou as duas primeiras décadas deste século. Ao final do trabalho foram encartados inúmeros anexos (boletins, cartas, telegramas, atas de reuniões) que, pela riqueza de seu conteúdo, consideramos importante fonte de pesquisa.
Arquivo Edgard Leuenroth