CORRÊA, Felipe. OCUPAÇÕES URBANAS A Prática do Anarquismo Social no Rio de Janeiro.

Publicado en Protesta! XI 2005

Rio de Janeiro (Brasil)CORRËA, Felipe

Acreditamos que a maioria dos males que afligem os homens decorre da má organização social; e que os homens, por sua vontade e seu saber, podem fazê-los desaparecer. Errico Malatesta
Vontade; o elemento-chave colocado por Malatesta para impulsionar as mudanças sociais. Talvez seja essa a palavra que melhor representa o trabalho dos companheiros anarquistas do Rio de Janeiro. Em uma breve análise da recente movimentação libertária na cidade, podemos citar a fundação da Federação Anarquista do Rio de Janeiro (FARJ) como um marco. Seu processo de formação iniciou-se a partir de um grupo de discussões sobre as formas de organização do anarquismo e durou em torno de um ano e meio. Com o término das atividades do grupo de discussão, houve o consenso sobre a fundação de uma organização do tipo especifista (uma federação de individualidades anarquistas que constroem, no seio da organização, suas distintas frentes de atuação social). Desde sua fundação, que veio concretizar-se em 30/08/2003, a FARJ vem trabalhando em inúmeros projetos, cujo principal objetivo é colocar as idéias anarquistas em prática. Como diz seu próprio Manifesto de Fundação, “a sociedade do futuro nascerá de nossa capacidade de realizar, a partir de agora, cotidianamente, as generosas aspirações que o anarquismo, ao longo de várias gerações de luta e esforço militante, legou à humanidade”.
Dentre os inúmeros projetos desenvolvidos pela FARJ, está o Centro de Cultura Social (CCS), localizado na zona norte da cidade, que serve de espaço para o trabalho comunitário, recebendo assembléias de muitos tipos, produção autogerida de bolinhos juntamente com membros da comunidade do Morro dos Macacos, reforço escolar, reciclagem, prática de capoeira - ensinada como autodefesa e cultura de resistência - e ainda abriga a Biblioteca Social Fábio Luz desde 2001. O CCS funciona como um espaço de militância ampliado, é uma frente de trabalho da FARJ, dentro da qual colaboram outros grupos como o Coletivo Libertário Ativista Voluntariado de Estudos (CLAVE) e o Grupo de Ação Libertária (GAL). Além destes grupos marcadamente anarquistas, ainda estão no CCS outros organismos de atuação social com os quais a FARJ tem afinidades táticas e concorda em alguns pontos específicos no que, grosso modo, poder-se-ia considerar estratégico. Entre esses estão o Comitê Contra a Tortura e a Prisão Política no Brasil e outros com formação ideológica eclética.