FERRUA, Pietro. "Amigos e personagens anarquistas de Eugene O’Neill"

GOLDMAN, Emma (1869-1940)BERKMAN, Alexander (1870-1936)TUCKER, Benjamin Ricketson, (1854-1939)HAVEL, HippolyteFERRUA, Pietro (Piero) Michele Stefano (1930 - ....)DAY, Dorothy (Brooklyn, New York, 8/11/1897 - 29/11/1980)O’NEILL, Eugene Gladstone (1888–1953)BALLANTINE COMINSKY, Stella (1886-1961)CARLIN, Terry (Terence O’Corolan, 1855-1933)COMMINS, Saxe (pseudónimo de Isidore Cominsky, 1891-1958)DODGE, Mabel (1879-1962)ELL (HOVDEN) (LEWIS), ChristineFITZGERALD, Mary Eleanor, dita "Fitzi" (1877-1955)HAPGOOD, Hutchins (21 de maio de 1869-19 de novembro de 1944)

O assunto já foi tratado parcialmente num artigo meu [1]mas merece ser desenvolvido por causa da preponderância dessas pessoas na vida do autor americano. Põe-se de inmediato um problema metodológico: qual critério adotar? A ordem cronológica seria interessante para o estudo da evolução literária e política de sua obra, mas não é fácil determinar em que momento todas as pessoas a seguir mencionadas entraram no campo visual, na imagem mental ou na intimidade do O’Neill. Sabemos sim que quem "converteu"O’Neill ao anarquismo foi o Benjamon Tucker, mas não encontramos muitos traços da presença dele na obra teatral ou na vida particular do autor. Por outra parte quem o levou na livraria anarquista não tinha já semeado o terreno? Seguir o princípio da importância da pessoa também seria injusto: além da inevitável subjetividade da escolha é difícil se determinar uma relação entre o carinho que ele tem para a pessoa ou o poder que ela teve na imaginação dele. Isto poderia ser até inversamente proporcional aos encontros que ocorreram. O caso da Emma Goldman é típico: apesar de ser uma grande inspiradora do O’Neill, ainda não foi provado que eles se encontraram pessoalmente na vida real, apesar de ter tido vários amigos comúns e da presença dele ter coincidido temporalmente em Rochester (New Jersey). Por via desta e outras dúvidas e por não ter tido accesso aos arquivos de ambos resolvi adotar a escolha da órdem alfabética dos nomes. Haverá bastante pormenores para guiar eventuais pesquisadores a estudar em profundidade cada caso, pois cada um deles merece uma tese. Digamos também de antemão que a lista não contém todos os anarquistas com quem O’Neill lidou, porém certamente aqueles que tiveram alguma influência particular.

BALLANTINE COMINSKY, Stella (1886-1961)

Esposa de um comhecido ator teatral, que se distinguiu nas primeiras peças de O’Neill estreadas na época do Provincetown Theater em Rochester, ela era também irmã de Saxe Commins (nome adaptado de Cominsky) datilógrafo, editor e amigo fiel até a morte, filha de Lena Cominsky, a irmã de Emma Goldman. Stella foi a sobrinha preferida da Emma e foi elka que conservou as cartas que a tia lhe escrevia desde a prisão (no Estados Unidos) e, mais tarde, desde a União Soviética que permitiram-lhe, anos mais tarde, de escrever as próprias memórias [2]. A afeição entre tia e sobrinha era extraordinária. Emma escreve: "The most radiant of the four Lena’s children was little Stella, who had always been my sunbeam in grey Rochester". Stella começou a corresponder com "Tante Emma"com a idade de 7 anos. Cheia de uma admiração que será confirmada pelos fatos quando, por exemplo, é interrogada pela polícia sobre a perigosa subversiva tia. Mais tarde Stella irá viver com ela , em Nova Iorque, dizendo-lhe que tinha sido o sonho de toda sua vida. Além de ajudar a tia na redação da revista Mother Earth, Stella tornou-se ela mesma propagandista e, em algumas oportunidades, , começa a tomar a palavra em público, como na campanha contra o serviço militar em 4 de julho de 1917, dia da festa nacional americana. Baste dizer que no testamento a Emma deixa a sua coleção de livros bem como sua fazenda de Ossining para a Stella. Quando Emma encontra-se presa, Stella lança o Mother Earth Bulletin em sua defesa.
Mas qual é a relação entre a devoção total de Stella por Emma e a amizade e influência sobre Eugene O’Neill? Há muitas menções de Stella na correspondência dele com a segunda mulher e com o amigo Saxe irmão dela. Minha hipótese de trabalho é que a própria Stella (coadiuvada mais tarde pelo irmão Saxe) fungiu de intermediária entre O"Neill e Emma Goldman, pois, apesar da enorme influência que Emma teve na obra teatral dele (atrás das personagens de Olga Tamiroff na peça The Personal Equation, Rosa Parritt em The Iceman Cometh e de Rosa ou Francina Daniello em The Visit of Malatesta) ninguém chegou a provar que eles jamais tivessem se encontrado (apesar de saberem um do outro e de coincidirem em Rochester alguma vez) [3]. Considera-se que seu irmão Saxe, também íntimo do escritor, tenha-o informado sobre muitos acontecimentos, bem como Hippolyte Havel (que foi companheiro de vida da Emma durante algum tempo) mas pela proximidade em Rochester e os contatos regulares é lógico suspeitar que muitas confidências foram veiculadas por ela. Tem alguns fatos que são narrados nas memórias de Emma, Living my Life porém o livro saiu muito depois de relata-los em suas peças, como a travessia do Atlântico de uma companheira anarquista fantasiada de marinheiro (Mollie Steimer) e a história de Gertie Vose, mãe de um delator.
Agnes Boulton (segunda esposa do O’Neill) quando o marido ia para as grandes cidades (e, as vezes , essas separações duravam semanas, frequentava quase exclusivamente a Stella Ballantine e o Terry Carlin e com eles falava horas e aprendia coisas que depois contava para o marido (durante as visitas dele) e, talvez, na correspondência diária que mantinham entre Rochester e Nova Iorque.

BERKMAN, Alexander (1870-1936)

Há um único encontro documentado entre eles e foram encontradas só tres cartas do O’Neill ao "Sasha".O conteúdo delas, porém, é suficiente para confirmar a admiração mútua. A correspondência existente se encontra nos arquivos do Instituto Internacional de História Social em Amsterdam (cartas do O’Neill ao Berkman) enquanto o resto dos arquivos está espalhado em 35 bibliotecas americanas e uma até nas Bermudas (onde ele passou alguns anos).
As tres cartas acima mencionadas foram publicadas e lidam com o assunto da tradução em russo de algumas peças do O’Neill (ela aliás comenta que os russos já "roubaram" tres sem ele reagir) e nota com ironia que na União Soviética ele é considerado como um escritor proletário. O escritor russo que interveiu junto a ele não é qualquer um mas nada menos que Anatoly Lunatcharsky, então ministro de cultura. O’Neill pediu ao Berkman que traduzisse ao russo a peça dele Lazarus Laughed. Uma das outras peças mencionadas é The Hairy Ape patrocinada nos Estados Unidos pela IWW. A terceira se supões seja The Personal Equation, que trata de greves e discute estratégias políticas das várias esquerdas (a parlamentar, a reformista, a revolucionária). O’Neill, diga-se de passagem, é um dos poucos inteletuais da esquerda americana que sempre soube qual era a distinção entre as ideologias (por ter sido amigo de John Reed e de Louise Bryant e ter lido relatos de Alexader Berkman e Emma Goldman sobre a deriva autoritária da República dos Conselhos) contrastantes da esquerda.

Na carta de 29 de janeiro de 1922 [4], além de sublinhar que ele é "immensely pleased "pelo fato do Berkman ter aceito de fazer a tradução, ele rememora o único encontro deles uns anos atrás:" Yes, it was a long time since that night at Romany Marie [5]. But I am quite sure that you don’t remember me better than I do you. I have a very clear picture of in mind to this day. I had a very deep admiration for you for years, and that meeting was sort of an unexpected wish fulfillment. As for my fame (God help us!) and your infame, I would be willing to exchange a good deal of mine for a bit of yours. It is not so hard to write what one feels as truth. It is damned hard to live it!"
Trata-se de um depoimento certamente sincero de um intelectual que já tinha se identificado como anarquista através da pluma sem portanto nunca ter tido a coragem ou a iniciativa de recorrer ao tipo extremo de ação direta pela qual o Berkman foi perseguido não só pela justiça mas também por aqueles anarquistas que achavam contraproduzente o estilo de ação que ele praticara. Evidentemente O’Neill não compartilhava desse preconceito.

CARLIN, Terry (Terence O’Corolan (1855-1933. [6])

Pouco se sabe da vida deste irlandês, companheiro de bebedeira de Eugene O’Neill. Não deixou nenhum traço de existência nas crónicas judiciais (raros são os anarquistas que não tiveram nenhum processo ou não conheceram a prisão) nem nos anais literários. Portanto, bem antes de inspirar um dos personagens mais importantes do teatro dele (o Larry Slade no The Iceman Cometh) ele já tinha sido personagem literário de Mable Dodge e protagonista de um romance de outro escritor anarquista conhecido, Hutchins Hapgood, The Anarchist Woman. Que se saiba o Terry não escreveu nenhum livro nem cumpriu algum gesto extraordinário (há só menção de uma palestra no Ferrer Center de Nova Iorque, na sede do qual ele morou algúm tempo, e de algumas colaborações aos jornais do Tucker e do Havel6bis), mas houve quem chegou a dizer. [7] que o Terry foi quem mais influenciou O’Neill nas suas escolhas políticas, filosóficas e estéticas.
O’Neill não só o comemorou como personagem mas demonstrou sua gratidão de maneira concreta. Junto com o Hapgood e a própria irmã do Carlin, proveu durante anos á subsistência do velho amigo. Além de várias testemunhas disso temos também um comprovante legal, uma carta que o escritor mandou para o advogado dele, Harry Weinberg (que por sinal foi também advogado da Emma Goldman e de muitos anarquistas americanos) na qual expressa sua decisão de aumentar a pensão mensal que ele estava encarregado de pagar para o Terry com o dinheiro da cobrança dos direitos autorais. Datada de 11 de junho de 1933 [8] eis seu conteúdo parcial: "The extra for Terry is okay with me. I’ve been thinking about him a lot. The ideal thing for him – between us, for I know he’d be offended by the suggestion – would be a Home – not charity but a decent place where I could pay a reasonable amount monthly and know he was getting real care..."
O Terry trabalhou quando jovem como curtidor de peles e foi também inventor. Um belo dia brigou com o chefe dele e nunca mais quis trabalhar e tornou-se um parasita social, talvez genial como o foram o "Neveu de Rameau"do Diderot e o "Neveu de Wittgenstein"do Thomas Bernhard. A intuição do Carlin consistiu sobretudo em entrever o gênio do O’Neill, inspira-lo e empurra-lo a su superar a si mesmo. As conversas nietzchianas, antes, durante e depois de farras intermináveis vão formar parte dos diálogos da peça acima mencionada e de outras também.
Na correspondência entre Agnes Boulton, a segunda esposa do O’Neill, e o marido, durante as ausências periódicas dele de Rochester, ha inúmeras menções do Terry Carlin: veio ler os jornais, brincou com a criança, acompanhou-a a festas, aconselhou isso e aquilo. O Terry viveu num quarto de despejo que a família O’Neill lhe fornecia, comia com eles, compartilhava tudo. Se ás vezes ele atrapalha ou impede a intimidade do casal, as queixas do marido ou da mulher são passageiras e jamais haverá uma briga. O que ficou dele nas lembranças de quem o conheceu e teceu algum comentário, foi a grande capacidade de beber mas também a grande disponibilidade e a insistência com a qual empurrava O’Neill para que escrevesse,
publicasse, se impusesse. Foi ele que o levou na casa do Hutchins Hapgood (primeiro leitor em voz alta das peças do futuro Prémio Pulitzer) onde nasceu o Provincetown Theater, que no começco se chamava Wharfhouse Theater.
Na peça The Iceman Cometh, transformado em Larry Slade, o Terry Carlin se impõe até o fim com sua forte personalidade. A sua figura domina a peça com seu cinismo, seu egoismo, sua brutalidade de linguagem e de pensamento, porém também com sua lucidez e sua inteligência. Foi assim que o autor criou uma das personagens mais poderosas de sua obra.

COMMINS, Saxe (pseudónimo de Isidore Cominsky, 1891-1958)

Irmão de Stella Ballantine e sobrinho de Emma Goldman ele entrou na vida do O’Neill comodentista. Não sómente ele o curou de graça mas o hospedou durante duas semanas na própria casa (onde conheceu a família toda, da qual ele sempre conservou uma lembrança imperecível). Esytrearam juntos as primeiras peças respectivas em Rochester, no Provincetown Theater. O Saxe não so tornar-se-á seu grande amigo e confidente, mas também seu editor, uma profissão que ele praticou (além da odontoiatria e do ensino, na prestigiosa Columbia University, onde se tornou amigo do Albert Einstein) junto à Random House, cuidando de autores famosos como William Faulkner, W.H. Auden, Isaak Dinesen (isto é Karen Blixen), Sinclair Lewis, Irvin Shaw.
Não foi so o sobrinho predileto de Emma Goldman mas também durante algum tempo, redator de The Mother Earth. Quando O’Neill, nas vésperas da Segunda Guerra Mundial, começou a escrever The Visit of Malatesta foi ao Saxe que ele se dirigiu para que lhe procurasse velhas publicações anarquistas (a coleção dele tinha ficado nas Bermudas e ele nunca voltou para as ilhas, depois da separação de Agnes Boulton e nunca a recuperou) para fins de documentação.
Os dois amigos se afastaram devido a um desentendimento do Saxe com a terceira esposa do Eugene, Carlotta Monterey, da qual o marido era psicologicamente dependente do que ela aproveitou isolando-o sempre mais e obteve que se afastasse dos amigos de juventude, segundo elas todos anarquistas e parasitas.
A viuva do Saxe, Dorothy Commins (pianista e escritora) reuniu porém parte da correspondência trocada entre os dois amigos, o que deu o livro Love and Admiration and Respect . Este título derivou da dedicatória que O’Neill autografou na cópia da peça The Iceman Cometh, quando saiu.
Cabe lembrar que o próprio Saxe foi quem datilografou o manuscrito e também pedira e obteve da esposa que compusesse a música de cena para a estreia.
Quem tentou salva-lo das garras de Carlota Monterey, enloquecida no fim da existência, foi o casal Commins. Foi a eles que O’Neill se dirigiu quando precisou de ajuda. Foram eles que cuidaram de sua saúde, de seus negócios e até de explicar para Oona O’Neill Chaplin que Carlota era culpada de esconder as cartas dela ao pai e de destruir muita da correspondência vinda dos amigos do passado e até do próprio filho Eugene Jr., nascido do primeiro casamento (fato que precipitou uma tragédia pois o filho pediu ao pai que o ajudasse a pagar uma prestação de hipoteca e nunca obteve uma resposta, o que o levou ao suicídio).
Noutro livro [9] a Dorothy produz provas de que O’Neill ficou ligado a vida toda ao Saxe e não só por gratidão mas por profunda amizade. Eis uns trechos significativos: "Be sure and come! Seeing you again would be worth more than an ocean of medecine"(p. 188); e, em 2 de março de 1941:"Come out if you possibly can. It will be a charitable act, a boon to us to have you here"(p. 196). O último encontro documentado entre Saxe, Dorothy e Eugene toma lugar em 16 de maio de 1951, depois do afastamento programado por Carlotta e pouco antes da morte dele.

DAY, Dorothy (1897-1980)

Nos anos da vida boêmia em Nova Iorque Dorothy e Eugene faziam parte da mesma turma de farristas e noctámbulos. Algumas fontes [10] reportam que Eugene estava apaiconado por ela, outras [11] que teria sido ela que o queria seduzir, a interessada [12] escreve que ele deu em cima dela e ela recusou. Ao que parece nunca houve uma relação sexual entre eles, mas sobra a possibilidade de um amor "platônico" (passaram várias noites no mesmo quarto e até na mesma cama, vestidos, com ou sem testemunhas e invariávelmente ambos bebados) e a certeza de uma grande amizade e estima mutua.
Dorothy acabou vivendo com outro anarquista, Forster Betterham, com o qual terá uma filha em união livre, até se converter ao catolicismo. Uma forma particular de catolicismo, porém, embebida de anarquismo, as origens filosóficas do qual se encontram no pensamento de Emmanuel Mounier, teórico do personalismo e diretor da revista francesa Esprit . Mediador foi Peter Maurin (ou seja, Pierre Maurin), fundador com ela do movimento conhecido com o nome de "Catholic Worker". Estranha combinação entre catolicismo e anarquismo [13], esse movimento, que ainda continua ativo apesar do falecimento de seus fundadores, publica um jornal mensal no qual coexistem retratos de santos ao lado dos de Sacco e Vanzetti e de Kropotkin. Comprende também uma rede de "Casas de Hospitalidade"onde qualquer um é bemvindo (vagabundos, desempregados, foragidos, prostitutas, drogados) que precise de um banho, um prato de sopa, uma cama ou uma palavra de reconforto. Os membros do movimento [14] (entre os quais padres e freiras que se definem anarquistas) vivem pobremente, em comunidade e recusam o pagamento dos impostos, a prestação do serviçco militar, a obediência ao Estado.
Paradoxalmente alguns biógrafos atribuem a conversão do anarquismo ateu ao anarquismo católico, por parte de Dorothy Day, à leitura pública e inspirada de um poema de Francis Thompson chamado "The Hound of Haven", por parte de Eugene O’Neill, ateu militante que, por sua parte, compus várias peças de conteúdo religioso. Dorothy Day escreveu e publicou vários livros de memórias e em cada um deles lembra sua amizade com o dramaturgo. Ela até revela que Euge O’Neill, Max Bodenheim e ela escreveram juntos um poema (em 1918 no Jimmy Wallace’s saloon, que ficou destruido num incêndio). Acontecimento interessante pois anterior ao mesmo jogo conhecido como "le cadavre exquis"praticado pelos surrealistas francese a partir de 1924.

DODGE, Mabel (1879-1962)

Mabel nasceu Ganson, tornou-se Evans com o primeiro casamento, Dodge em 1905, depois disso, com o terceiro marido, passou a chamar-se Sterne e, em 1923, após o quarto casamento, Lujan. O nome foi modificado em Luhan e hoje, nos anais literários e nos livros de referências, é geralmente mais conhecida com o nome Composto de Mabel Dodge-Luhan.
Nos ambientes anarquistas ela tornou-se nota a través do salão literário que ela abre no Greenwich Village de Nova Iorque por volta de 1912. Ás reuniões semanais das quartas-feiras estão geralmente presentes Margaret Sanger, Hutchins Hapgood e Emma Goldman, entre outros. Mabel organiza grandes manifestções de protesto por razões sindicais (a famosa greve de Paterson de 1913) mas também está interessada nas vanguardas artísticas e apóia o Armory Show que teve uma repercussão enorme na cultura americana do começo do século. Nesse mesmo anpo ela dedica um poema ao anarquista Hutchins Hapgood, que Emma Goldman publica na revista dela ("My beloved" saiu em Mother Earth em 1913).
Eugene O’Neill conheceu-a e frequentou-a quando era a amásia do John Reed, antes dele se tornar amante da Louise Bryant (que acabará casando), com a qual O’Neill terá um caso.
Mabel Dodge foi provávelmente apresentada a Eugene O’Neill pelo Terry Carlin, que ela adorava e sobre o qual também escreveu em seus livros. Em Rochester ela fazia parte do grupo que animava o Provincetown Theater, onde peçcas do Saxe Commins, do O’Neill, de Hapgood, de Mabel Dodge e outros foram estreadas.
Inteletual aclamada, naquelas alturas, ele tornou-se por sua vez personagem literária de vários autores, dos quais o mais importante foi D.H. Lawrence que a introduziu no The Plumed Serpent e em St.Maurant. The Man who Died , Carl van Vechten também a retratou no romance Peter Whiffle: His Life and Works onde se transforma no personagem de Edith Dale. Ela alimentou também a figura de Mary Kettridge no romance Venture de Max Eastman. Enfim, Jacques-Emile Blanche a apresenta como "Giselle"no romance Aymeris e o mesmo autor, também pintor, fez um retrato dela em 1911. Dela existem vários retratos artísticos fotográficos como o da Gertrud Stein.
No acervo da Biblioteca Beinecke, da Universidade de Yale, se encontram onze cartas do Alexander Berkman, cinco da Emma Goldman, 278 escritas por Hutchins Hapgood e sua esposa Neith Boyce mas, infelizmente, só duas do Eugene O’Neill. A coleção não é completa, devido ao ciúme retrospctivo de um de seus maridos, o Sterne, que queimou a mor parte da correspondência que ela tinha acumulado e que fosse de proveniência masculian "suspeita".
Eugene O’Neill, depois de casar com Agnes Boulton, foi viver na casa que pertencera a Mabel Dodge e que o pai do O’Neill, ator famoso, comprou para o filho e sua família. As relações entre Mabel Dodge e O’Neill parecem ter enfraquecido quando ela saiu de Rochester e se estabeleceu no Novo México e tornou-se interessada no folclore dos indígenas americanos. Nessas alturas também o O’Neill parte para as Bermudas, as atividades teatrais dele se multiplicam e ele se isola sempre mais.

ELL (HOVDEN) (LEWIS), Christine

(nascida na Dinamarca ou na Suécia, crescida na Inglaterra, emigrou para os Estados Unidos, não são conhecidos outros datos sobre a vida dela)
Talvez devido a sua infância infeliz – durante a qual foi esplorada, maltratada e seduzida- sabe-se pouco da vida dela. Ao chegar neste país há quem diga que ela trabalhou nos campos, ou quem diga que viveu entre as prostitutas. Estava à beira do desespero quando, em Denver, foi escutar uma palestra de Emma Goldman que a deixou entusiasmada. Apresentou-se à conferencista e contou-lhe a própria vida. Além de lhe explicar o anarquismo, Emma ensino-lhe também algo sobre a dignidade de ser mulher. Emma convidou-a a se estabelecer em Nova Iorque onde não só ela se regenerou, mas encontrou logo trabalho no restaurante de Polly Holliday como cozinheira e logo tornou-se gerente de um restaurante que George Cram Cook (muito ligado a O’Neill) abrira no segundo andar do Provincetown Playhouse. Foi ai que Eugene encontrou a CHristine, primeiro como freguês, depois como amigo e até admirador (chegou a chama-la de "Cristo femea"). Quem também a admirava era o Charlie Chaplin, frequentador dos mesmos locais, que achava que ela tinha grandes qualidades mímicas.
O’Neill a imortalizou na personagem de Anna Christopherson, dita Anna Christie,
que teve um enorme sucesso teatral e também cinematográfico. Segundo um biógrafo (v. Gelb, op.cit. 362) ela também inspirou as personagens de Josie Hogan em A Moon for the Misbegotten e de Cybel em The Great Good Brown. O’Neill teve um breve caso com Christine mas a razão mais importante foi que quem o apresentou a Agnes Boulton (que casará depois de seis meses de frequentação) foi exatamente a Christine ELL.

FITZGERALD, Mary Eleanor, dita "Fitzi" (1877-1955)

Eugene tinha uma grande confiança nas capacidades artísticas e organizativas desta militante anarquista conhecoda (foi companheira de vida de Alexandre Berkman, administradora de Mother Earth, amiga, correspondente e confidente de Emma Goldman) quando assumiu a responsabilidade do Provincetown Theater in Rochester. Nos arquivos dela, depositados na biblioteca da Universidade do Wisconsin, em Madison, encontram-se numerosas cartas de Emma Goldman, de Ben Reitman, Alexander Berkman, Eugene O’Neill, bem como os programas do grupo teatral da Provincetown Playhouse, dirigido por William Cram Cook. Ela e Stella Ballantine conservaram cuidadosamente todas as cartas que Emma Goldman lhes escrevia desde a prisão (nos Estados Unidos) ou desde a Rússia (depois da expulsão decretada pelas autoridades americanas), o que lhe possibilitou escrever suas memória (o que ela acabou de fazer em Saint-Tropez em 1931).
Fitzi foi também co-editora do jornal anarquista The Blast lançado em San Francisco pelo Berkman. Depois da publicação ser proibida ela volta para Nova Iórque e torna-se ativa na Liga contra a conscrição para a guerra e, logo depois, é nomeada secretária da Liga para a Anístia em favor dos presos políticos.
Quando ela começa a trabalhar para a companhia teatral de Rochester ela é ainda ativa na campanha para salvar Bill Mooney da cadeira elétrica.
Fitzi teria gostado de visitar Alexandre Berkman e Emma Goldman na União Soviética mas as autoridades americanas lhe recusam o passaporte. Quando finalmente o obtem, eles já estão exilados. O encontro acontece então em Londres onde a Fitzi levous a peça do O’Neill Emperor Jones , com o ator preto Paul Robeson como protagonista. Grande organizadora em qualquer empreendimento, a Fitzi contribui não pouco à divulgação do teatro do O’Neill. Quando ele não queria assistir aos ensaios de suas peças foi ela que ele encarregava de tomar todas as decisões. Essa bela e grande amizade, porém, acabou quando ele casou com Carlotta, pois Fitzi, sendo muito amiga da Agnes abandonada, não mando votos na ocasião do terceiro casamento dele. Muitos anos depois, porém, quando a Fitzi ficou hospitalizada, telefonou para ele pedindo ajuda para financiar uma operação e ele mandou-lhe imediatamente um cheque para cobrir as despesas.

GOLDMAN, Emma (1869-1940)

Até hoje não encontrei nenhuma prova de relações pessoais entre ela e O’Neill, apesar de terem coincidido algumas vezes nos mesmos lugares, por exemplo, na cidade de Rochester, onde residiam as irmãs dela com toda a família. Sabemos porém que ele conhecia a obra escrita dela, que ela lhe publicou uma poesia na revista Mother Earth e também que fez palestras sobre o teatro dele. O’Neill estava a par de tudo o que dizia respeito a Emma, por intermédio de Stella Ballantine, Mary Eleanor Fitzgerald, Hippolyte Havel, Saxe Commins e alguns outro que a frequentavam assiduamente.
Entretanto, ela inspirou-lhe tres dos retratos femeninos mais empolgantes da obra dela. O distanciamento criou porém uma idealização da revolucionária russa. Ele constroi o mito da mulher anarquista que nem sempre corresponde nem á vida, nem ao pensamento da Goldman. Na primeira das tres peças anarquistas que ele concebeu (The Personal Equation), a personagem de Olga Tamiroff representa só em parte a personalidade da anarquista admirada pelo autor. Há, por exemplo, uma mistura de acontecimentos: a Olga que se fantasia de marinheiro para poder viajar com a tripulação de um navio poderia ter sido inspirada por una acontecimento autêntico que ocorreu não com Emma Goldman mas com Mollie Steimer, também judia, russa e anarquista mas bastante mais jovem. A Emma teve tempo de conhece-la e de admira-la e fala dela em suas memórias. O’Neill já tinha escrito a peça quando saiu Living My Life mas, como disse acima, não faltavam intermediários, amigos comuns anarquistas que colocassem ao par o dramaturgo sobre o que acontecia nos bastidores do movimento anarquista de Nova Iórque.
A mãe do Don Parritt, no The Iceman Cometh, tampouco corresponde em nada á figura da Goldman [15]. Gertie Vose [16], que a inspirou, foi sim uma anarquista conhecida naquelas alturas, mas a Emma a denunciou abertamente como "traidora"por ter permitido que o filho se insinuasse nos ambientes anarquistas de Nova Iorque, à serviço da polícia, para ajudar a justiça a prender dois companheiros foragidos suspeitos de terem ajudado os irmãos McNamara a cumprir um atentado contra a sede do Los Angeles Times.
Finalmente, na peça nunca concluída, The Visit of Malatesta, existe também uma personagenm que tem traços da Emma Goldman, porém bastante outro que são diferentes.
Minha conclusão é que O’Neill, que conheceu muitas mulheres anarquistas, fundiu as qualidades de todas elas e criou uma figura arquetípica que que toma algo da realidade para fabricar um mito que a supera e que, graças a seu gênio artístico, se sobrepõe a ela. Nas notas e cadernos do O’Neill encontram-se as abreviações E.G.. É uma pista que deve ser seguida e pelo menos um autor a examinou em profundidade, antes de mim, pesquisando o assunto para uma tese de doutorado, publicada por Virgínia Floyd [17].
Ela também chega à conclusão que:
a) E.G. não pode ser senão Emma Goldman,
b) que não ha prova que os dois autores tenham se encontrado na vida real;
c) e que a Goldman não foi senão a maior fonte de inspiração.

HAPGOOD, Hutchins (21 de maio de 1869-19 de novembro de 1944)

Anarquista tostoiano que foi muito ligado ao O’Neill. Além de compartirem amizade e admiração pelo anarcoindividualista stirneriano irlandés Terry Carlin e constituirem um fundo comúm para ajuda-lo financeiramente até a morte (con contribuições de tres pessoas, que se saiba: a irmã do Carlin, o Hapgood e o O’Neill) ele foi muito determinante para a carreira teatral do futuro Prêmio Nobel. De fato foi na casa dos Hapgood em Rochester que nasceu a companhia do Provincetown Theater (que no início se chamava WharfTheater). Essa troupe contava já com a adesão de Neith Boyce, George Cram Cook, Susan Gaspell, John Reed e outros e foi o próprio Hapgood que leu em voz alta a primeira peça do O’Neill, a pedido de Terry Carlin, que tinha se gabado de conhecer alguém que tinha uma mala cheia de manuscritos de peças inéditas.
Hutchins Hapgood já escolhera a figura do Terry como personagem importante de seu romance An Anarchist Woman e confiou no julgamento do Carlin. Assim nasceu a fama de O’Neill, que muito rápidamente superou à dos outros membros do grupo teatral. Dentro de poucos anos, a companhia foi de Rochester para a grande metrópole e, do Provincetown a Greenwich Village e, logo depois, Broadway, havia só um passo que foi velozmente cumprido. O’Neill não tardou a ganhar uma série de prêmios Pilitzer e se impós na vida artística e inteletual do país como o dramaturgo mais original do teatro americano.
Hutchins Hapgood foi muito ativo na comunidade anarquista de origem hebráica, no movimento anarcosindicalista, na Associação Francisco Ferrer. Colaborou nas causas da Emma Goldman e até demissionou do Clube Liberal porque seu diretório não queria aceitar a revolucionária russa entre seus membros.
Numa carta à segunda mulher dele, Agnes Boulton, escrita de Nova Iórque em 12 de janeiro de 191, O’Neill diz à esposa:"I have grown to love Hutchins. He is a peach".
Além de se encontrarem amiúde em Rochester, Hapgood e O’Neill frequentavam os mesmos locais em Nova Iórque (o Hell Hole, Polly’s, Romany Marie) e os mesmos amigos (Terry Carlin, Hippolyte Havel, Christine Ell, entre outros)Tinha sido o Hutchins que mandara o dinheiro da viagem de volta para o Terry Carlin –quando ele encontrava-se na Inglaterra – e que o apresentou ao O’Neill.
No livro A Victorian in the Modern World encontram-se várias fotografias com Hippolyte Havel, con Carlin e uma com O’Neill (e seu filho Shane) com John Reed e Ernest Hemiogway. Além dos dois títulos já mencionados, o Hapgood escreveu e publicou outros livros: The Spirit of the Ghetto, Types from City Streets, The Autobiography of a Thief, The Spirit of Labor, Fire and Revolution, The Story of a Lover, etc. Foi também colaborador do semanal anarquista Freie Arbeiter Stimme (um jornal em lingua Yiddish com difusão de 7.000 cópias e que durou quase um século) e do mensal Freigesellschaft.

HAVEL, Hippolyte

Anarquista tcheco que Emma Goldman conheceu em Paris e de quem ela se apaixonou. Foi ela que o trouxe aos Estados Unidos. Já tivo na Europa com uma longa história de processos, continuou a militar no movimento americano como colaborador das publicações existentes (Mother Earth, Open Vistas, Man!, Freedom) ou fundou algumas dela ele mesmo, tais como: Revolutionary Almanach, Social War, Free Society, Anarchist Soviet Bulletin, etc. Curou edições de obras de Emma Goldman, Voltairine de Cleyre, Errico Malatesta, Bacunin, etc. Fez parte da seção americana da Comissão Internacional de Relações Anarquistas. Ocupou-se da Labadie Collection, fundada por Agnes Ingles e colocada na biblioteca de pesuisas da Universidade do Michigan, em Ann Arbor. Ali existem notas autógrafas comentando as visitas dele em 1929 e duas cartas (20 de outubro de 1935 e 5 de abril de 1943)da Agnes Ingles para o Havel pedindo-lhe informações biográficas.
O que se sabe dele não corresponde necessáriamente ao retrato dele que O’Neill traça no The Iceman Cometh. Porém, em primeiro lugar uma peça teatral ou uma obra literária não podem ser considerados documentos históricos fiaveis, em segundo lugar, as pessoas mudam e evolvem. O Hugo Kalman da peça talvez assemelhe ao Havel de 1913-1916 quando o autor frequentava o assim dito Hell Hole. Que o Havel bebesse demais, na época, é conhecido. Os biográfos do O’Neill relatam uma conversa entre Dorothy Day e Eugene O’Neill a propósitode Havel, que ela julga ser um parasita e um vagabundo. O’Neill o defende e não é o único. O Escritor Theodore Dreiser é da opinião que uma pessoa como ele teria que ser ajudada pela comunidade devido à impossibilidade de se defender a si mesmo na vida. Fotografias da época o mostram junto a Hapgood, a Hemingway, a O’Neill, vestido limpamente, ativo, normal e não caricatural como na peça. A conclusão poderia ser que O’Neill o colheu no pleno de uma crise (devida provávelmente a motivo sentimentais)e talvez também que ele tivesse uma dupla personalidade. Na vida real, qualquer fosse a crise, ele deve tê-la superada, pois viveu ainda uns trinta e mais anos continuando a propaganda do anarquismo.
Não confundamos portanto arte e realidade e convençámonos que se bem não retratado de maneira lisonjeira, o Kalman-Havel preencheu um papel delicado, antipático talvez, porém importante no equilíbrio da peça. Como já foi dito no artigo anterior, a atmosfera negativista da peça não é senão um estratagema teatral.

TUCKER, Benjamin (1854-1939)

Cronológicamente foi um dos primeiros anarquistas que O’Neill cruzou em seu caminho durante a juventude. A vida intelectual dele mudou a partir do dia em que poz pé ns loja "The Unique Bookshop". O título do sebo não deve induzir a pensar que o adjetivo "único" seja necessáriamente e exclusivamente ume referência ao "Único"do Max Stirner. Outra acepção da palavra pode ser uma alusão à singularidade, à raridade. O Tucker não foi exatamente um anarco-individualista ortodoxo: acreditava na socialidade. Apesar de não violento ele era e ficou aberto a todas as escolas do anarquismo e na livraria ou nas revistas dele, ele sempre comentou e convidou a se expressar partidários de todas as tendências do anarquismo. Tomou posição em favor de Walt Whitman (então vilipendiado), de Oscar Wilde (recém processado), correspondeu com George Bernard Shaw e fez conhecer a obra dele nos Estados Unidos.
Os biográfos de O’Neill insistem sobre o fato que os grandes descobrimentos do futoro autor teatral foram Nietzsche e Stirner, o que é parcialmente confirmado pelas discussões com Terry Carlin e Saxe Commins. A própria segunda mulher dele, Agnes Boulton, em suas memorias17 confirma que o marido lia muito Nietzsche. Isso não me convence totalmente, pois, se assim fosse, de onde teria ele sacado os argumentos da primeira peça anarquista que ele escreve naquela época? Trata-se de The Personal Equation. Não são idéias nietschianas nem stirnerianas os argumentos expostos na peça, mas argumentos sindacalistas revolucionários. Assuntos como sabotagem, greve, ação direta, propaganda pelo fato, antimilitarismo, luta de classe, união livre, etc. que indicam conhecimentos mais pormenorizados do que a crítica oficial queira nos convencer. O fato dele ter começado a escrever (ainda que bem mais tarde mas nesse mesmo espírito) ume peça sobre Malatesta [18] é significativo.
Não só não se trata de um individualista stirneriano, se bem de um anarco-comunista que aceita a violência revolucionária.
Quando, em 1937 [19], ele pede ao Saxe Commins que lhe procure obras anarquistas (que ele quase certamente tinha quando se mudou para as Bermudas mas que jamais recuperou, quando deixou a casa para Agnes Boulton e os dois filhos) ele não se expresa de maneira vaga, porém menciona alguns nomes (Bacunin, Kropotkin, Goldman) e aclara seu desenho"or any book of Emma’s -–which give as clear a picture of the structure and workings of society if this Anarchist Utopia came to be? Mais longe ele explica: "I might have one of my characters in the Cycle dope out for himself an ideal society which would be similar to Anarchism or Syndicalism".
A galeria de amigos e personagems anarquistas que precede não é naturalmente completa. Dela ficaram excluidas pessoas cuja adesão ao anarquismo foi episódica ou não pode ser bastante pesquisada por falta de documentação. Entre as omissões importantes há a das seguintes pessoas:
BELLOWS, George (com quem Eugene compartilhou de um quarto, nos anos de juventude, e que quis pintar o retrato dele mas não conseguiu pois a morte sobreveio quando recebeu a autorização);
 BODENHEIM, Maxwell (poeta libertário e companheiro de farra);
 BOYCE, Neith (a inteligente e talentosa companheira de Hutchins Hapgood);
 BRYANT, Louise (amante do O’Neill, esposa do John Reed, amiga da Goldman)
 COMMINS, Dorothy (esposa do Saxe, compus música para pe ças dele);
 CRAM COOK, George (autor do "Himno de batalha dos trabalhadores);
 DREISER, Theodore (famoso romancista, frequentador dos mesmo grupos);
 DRISCOLL, Joe (que o documentou sobre a greve dos portuários de Liverpool);
 GLASPELL, Susan (membro da equipe do Provincetown Theater);
 HARTMAN, Sadakichi (ligado à boemia anarquista e às vanguardas artísticas);
 HOLLADAY, Louis (que lhe inspirou-parcialmente-o personagem de Don Parritt);
 HOLLADAY, Polly (companheira de vida do Hippolyte Havel e irmã de Louis);
 KANTOR, Louis (=KALONYNE) (autor das primeiras críticas de suas peças);
 KOMROFF, Manuel (co-fundador do Ferrer Center e um dos editores do O’Neill)
 MARTIN, Joseph James (que o introduziu na problemática anarcosindicalista);
 REED, John (comunista mas também membro do sindicato IWW e que apoiou muitas campanhas anarquistas, antimilitaristas, progressistas);
 YUSTER, Marie (conhecida como "Romany Marie" ou Mrs. Marchand) uma cigana que na sua casa de chá dava comida e bebida a crédito para todos, inclusive O’Neill, ativa em muitas causas anarquistas ( gerente da Escola de Arte do Centro Ferrer de Nova Iórque, foi ela que apresentou Ariel ao Will Durant, encontro que acabou em casamento).
E outros mais.
A vida toda O’Neill foi rodeado de companheiros anarquistas e o progressivo afastamento da maioria deles foi devido à terceira esposa, essencialmente uma burguesa, mas sobretudo uma mulher de um psiquismo instável, ciumenta e possessiva, controladora e dominadora que o castrou inteletual e artísticamente nos últimos agitados dez anos de vida, durante os quais houve entre eles uma alternância de separações e reconciliações.
Segundo os biográfos foi ela a razão principal do repúdio dos filhos com as graves consequências conhecidas. O’Neill, apesar ou devido à sua genialidade, tinha um talão de Aquiles e era a esfera sexual na qual era totalmente súcube dela. Ele poderia ter reagido – e o fez em algumas circunstâncias- mas a tragédia do alcoolismo, das drogas e do suicídio no seio do círculo familiar, bem como naquele dos amigos íntimos, fizeram com que ele não soubesse reagir senão através da sublimação artística. Quem sabe se sem isso a vida dele, pior, a obra dele, não teria sido totalmente banal?
Assim estão as coisas e não como nós leitores, nós espectadores, nós companheiros de ideal, gostariamos que pudessem ter sido. A glória tem seus custos imprevisíveis.

[1"Anarquismo na vida e na obra de Eugene O’Neill", Verve, 7 (May 2005), 226-243.

[2Living My Life ( New York : Knopf, 1934, c1931). Escrito na França, numa casa em Saint-Tropez financiada pela Peggy Guggenheim.

[3Além de visitar a família ( que ali vivia) várias vezes, ela residiu um mês inteiro em Rochester quando saiu de prisão. Nas memórias ela menciona uma duzia de nomes de companheiros e simpatizantes que faziam parte da turma do O’Neill. Faltam só os nomes dele, da esposa e do Terry Carlin.

[4Ver Selected Letters of Eugene O’Neill curadores Travis Bogard e Jackson B. Bryer (New Haven e Londres: Yale University Press, 1988) pp. 232-33.

[5"Romany Marie" era o nome de uma casa de chá onde se reuniam os anarquistas, no Greenwich Village. O nome vinha do pseudónimo da gerente, Marie Yuster (uma cigana anarquista), que foi casada com um tal de Marchand. Ela foi gerente da escola de Arte do Centro Francisco Ferrer de Nova York, onde ensinaram ou estudaram artista famosos como Robert Henri, George Bellows, Joan Sloan, Marcel Duchamp, Man Ray, etc.

[6Segundo Paul Avrich, sempre muito documentado, a data do falecimento seria 1934. Veja-se também a nota seguinte.

[7Em Anarchist Voices. An Oral History of Anarchism in America (Princeton,N.J.: Princeton University Press, 1994) o autor menciona algumas colaborações do Terry Carlin publicadas no periódico anarquista do Tucker (Liberty) e no do Hippolyte Havel (Revolt).

[8Gelb, Arthur and Barbara, O’Neill (New York: Harper & Brothers, 1962) p.286.

[9Veja Selected Letters, pp.415-16

[10Dorothy Commins, What is an Editor? Saxe Commins at Work (Chicago and London: Chicago University Press, 1978) .

[11Veja Gelb, op.cit., 358-362.

[12Agnes Boulton, Part of a Long Story (Garden City: Doubleday, 1958).

[13Veja a biografia de Dorothy Day por William D. Miller.

[14Correspondi durante os anos ’50 e ’60 com um deles, Ammon Hennacy, autor de Autobiography of a Catholic Anarchist (New York: Catholic Worker Books, 1954) que pretendia ser mais anarquista do que os anarquistas tradicionais pois ele, por exemplo, recusava de pagar impostos ao Estado.

[15No manuscrito da peça a Gertie Vose se chama Emma. Veja Final Acts. The creation of Three Late O’Neill Plays by Judith E. Barlow (Athens: University of Georgia Press, 1985)

[16E.G. and E.G.O. by Winifried L.Frazer (Gainesville: University Presses of Florida, 1974).

[17Veja n.11.

[18The Visit of Malatesta in Eugene O’Neill. The Unfinished Plays, edited and annotated by Virginia Floyd, New York, Continuum, 1988, in-8°,xxviii-213pp.).

[19Carta de junho da Califórnia, na página 179 de "Love and Admiration and Respect"The O’Neill Commins Correspondence edited by Dorothy Commins (Durham: Duke University Press 1986).